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Conheça a História de Malala, a Mais Jovem Ganhadora do Prêmio Nobel da Paz

Atualizado: 1 de set. de 2020

Muitos de nós já ouvimos falar no nome Malala Yousafzai, jovem que ficou conhecida por levar um tiro do Talibã em 2012 ao tentar promover a educação para meninas em seu país, o Paquistão. Mas há muito mais história por trás desse nome do que imaginamos. Além de ser uma ativista de mão cheia pelo direito à educação de garotas no mundo todo, ela também é a mais jovem ganhadora do Prêmio Nobel da Paz devido à "sua luta contra a supressão das crianças e jovens e pelo direito de todos à educação". Apesar de ter apenas 20 anos, já causou grande impacto internacional com sua militância e coragem inabalável ao denunciar os crimes cometidos pelo Talibã. Mesmo após as ameaças sofridas por sua família durante anos e o atentado cometido contra ela, Malala nunca desistiu de expor as injustiças perpetradas contra o povo paquistanês.

Nascida em 1997 no vale do Suat, no Paquistão, a jovem cresceu sendo influenciada pelo grande espírito ativista e revolucionário de seu próprio pai. O sonho de Ziauddin sempre foi construir uma escola para garantir a educação de todas as crianças locais, concedendo bolsas de estudo integrais àquelas de origem mais humilde. Após muitos percalços no meio do caminho, ele conseguiu concretizar esse desejo e tornou-se uma figura de renome no vale por sua bravura e generosidade. Quando o Talibã passou a ameaçar o povo local, Ziauddin fez questão de consolar a filha: “vou proteger sua liberdade, Malala. Pode cotinuar sonhando”. Foi também graças a ele que a jovem paquistanesa não se deixou assustar pelas ameaças à sua volta e percebeu que tinha, de fato, uma voz. Quando adolescente, foi incentivada a conceder entrevistas, a dar palestras e a escrever artigos denunciando a situação das meninas do Suat à imprensa internacional. A partir de então, ela passou a ficar conhecida mundialmente.


No livro Eu Sou Malala, ela descreve em detalhes toda a sua trajetória, desde a infância até 2013, ano em que a obra foi publicada. Também explica como as mulheres são discriminadas em vários níveis em sua cultura, além de revelar as dificuldades que o povo de seu vale natal sofre, como com a falta de eletricidade e de saneamento básico. Trata-se de uma biografia com muito a ensinar, tanto em termos culturais e sociais, como em termos políticos e pessoais. Apesar da tenra idade, Malala mostra ser detentora de um espírito muito evoluído, sendo capaz de transmitir valiosos ensinamentos a quem estiver disposto a ouvir. Como ela mesma afirma, “que possamos pegar nossos livros e canetas. São as nossas armas mais poderosas. Uma criança, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo.” Dito isto, não podemos deixar de explorar mais a fundo os temas mencionados acima nos próximos parágrafos.


A realidade paquistanesa

Quando Malala ainda era criança, o vale do Suat já era assolado por problemas graves, como a ausência de eletricidade, educação precária (especialmente para meninas), carência de atendimento médico e de água potável. Ademais, na cultura paquistanesa, assim como em outros países com ideologias extremistas islâmicas do Oriente Médio, a diferença de direitos entre homens e mulheres fica extremamente evidente. Como descrito pela própria jovem, “nasci menina num lugar onde rifles são disparados em comemoração a um filho, ao passo que as filhas são escondidas atrás de cortinas, sendo seu papel na vida apenas fazer comida e procriar.” Além disso, enquanto os homens podem andar livremente pelas ruas, as mulheres têm permissão para sair de casa apenas se um parente do sexo masculino estiver presente. No entanto, a jovem Malala foi capaz de se libertar de muitas amarras sexistas graças à influência e mentalidade aberta de seu pai, que considerava essa herança cultural e religiosa injusta e sem sentido. Infelizmente, isso não impedia que ela fosse obrigada a seguir as leis impostas pelo Estado.


Pelo menos, a jovem ainda tinha o direito de frequentar a escola, atividade que valorizava acima de tudo. No entanto, com a tomada do poder pelo Talibã, a situação piorou muito. Os extremistas decretaram que meninas não poderiam mais estudar, pois sua obrigação deveria ser apenas cuidar da casa e da família. De fato, muitas atividades que homens podem exercer sem maiores preocupações são consideradas pecados mortais para as mulheres.


De acordo com Malala, muitos muçulmanos ficaram chocados com a interpretação distorcida do Corão pelos talibãs, que disseminavam o preconceito, a violência e o ódio acima de tudo. Eles proibiam os cidadãos - especialmente as mulheres - de realizarem atividades comuns do dia-a-dia, além de promoverem ataques terroristas e torturarem e executarem civis inocentes em praça pública. Porém, mesmo assim, eles acabaram recebendo apoio de boa parte da população local. Segundo Hidayatullah, amigo da família Yousafzai, essa tendência provinha de uma ausência crônica do governo:


“É assim que esses militantes agem. Querem ganhar os corações e as mentes do povo. Por isso, primeiro analisam os problemas locais e atacam os responsáveis por eles. Desse modo conseguem o apoio da maioria silenciosa. Foi o que fizeram no Waziristão, onde perseguiram bandidos e seqüestradores. Depois, quando tomaram o poder, comportaram-se como os criminosos que um dia caçaram.”


Mesmo vivendo em uma realidade restrita e perigosa, Malala e seu pai não pararam de militar a favor da educação e dos direitos básicos dos cidadãos do Suat. Em sua biografia, a jovem descreve um diálogo que teve com Ziauddin: “’Você está com medo?’, perguntei a meu pai. ‘À noite nosso medo é grande, Jani’, ele respondeu. ‘Mas de manhã, à luz do dia, sentimos a coragem voltar.’ E isso era verdade no caso de minha família. Tínhamos medo, mas ele não era tão forte quanto nossa coragem. ‘Devemos livrar o vale do Talibã, e aí ninguém terá de sentir medo.’”


A luta pelo direito à educação


Uma vez que o Talibã começou a ganhar força e dominar o vale, acima de qualquer força policial ou militar, seus integrantes sentiram maior liberdade para intimidar e ameaçar os habitantes locais. Escolas passaram a ser explodidas por homens-bomba, e era só uma questão de tempo até que o mesmo acontecesse com a escola de Ziauddin. Mesmo assim, ele decidiu mantê-la funcionando como forma de resistência contra a opressão dos talibãs. Além disso, diversos professores continuaram a lecionar, e pais de meninas continuaram a mandá-las para a escola. Como excelentemente exposto no livro Eu Sou Malala:


“No mundo existem 57 milhões de crianças fora da escola primária. Delas, 32 milhões são meninas. É triste, mas meu país, o Paquistão, ocupa um dos piores lugares: 5,1 milhões de crianças vão sequer à escola primária (...). Há quase 50 milhões de adultos analfabetos, dois terços mulheres – como minha própria mãe.”


Malala era absolutamente apaixonada pela escola. Como ela mesma afirma, “a escola era meu mundo, e meu mundo era a escola”. A jovem já tinha decidido lutar pelo seu direito à educação até o fim, não importasse o que acontecesse. Com o estímulo de seu pai e de seus professores, ela descobriu ser uma excelente oradora – dessa maneira, decidiu aceitar os convites para entrevistas e palestras da mídia internacional. O acesso à mídia se deu por meio da influência de Ziauddin, militante bastante ativo, possuidor de muitas conexões com empreendedores, políticos, jornalistas e outros ativistas.


Infelizmente, o ativismo de Malala representava uma ameaça crescente para os talibãs – eles a acusavam de veicular a “propaganda ocidental” e, por isso, decidiram eliminá-la. Assim, em uma certa manhã, o ônibus escolar que a jovem ocupava foi invadido por um extremista, que lhe deu um tiro à queima-roupa. À beira da morte, ela foi operada em estado emergencial em um hospital militar local. No entanto, eles não possuíam os meios necessários para tratar uma lesão de tamanha gravidade. Então ela foi enviada ao Reino Unido com a sua família em 2012, onde se recuperou e reside até os dias de hoje. Hoje em dia, ela estuda economia, filosofia e ciências políticas na Universidade Oxford. Mas ela ainda sonha em poder retornar à sua terra natal.


Esperança no futuro

Apesar dos meros 20 anos de idade, Malala passou por muitos percalços e realizou vários feitos importantíssimos desde a pré-adolescência. Sua ávida luta pelo direito à educação das meninas revela sua paixão por causas sociais e espírito militante. A jovem descreve um momento importante em sua biografia, no qual percebeu a sua verdadeira vocação: “Quando cruzamos o desfiladeiro Malakand, vi uma mocinha vendendo laranjas. Para cada laranja que vendia, ela fazia uma marquinha com lápis num pedaço de papel, pois não sabia ler nem escrever. Tirei uma foto e jurei que faria tudo o que estivesse ao meu alcance para ajudar a educar garotas como ela. Era essa a guerra que eu ia travar”. Decidida, ela adentrou o mundo do ativismo, no qual continua até hoje.


Para resumir, Malala Yousafzai é um exemplo internacional de generosidade, tolerância e consciência. Ela inspira milhões de pessoas ao redor do mundo com sua coragem, determinação e força inabaláveis. A jovem representa um símbolo de direitos iguais entre homens e mulheres e do direito à educação de todas as crianças e adolescentes, especialmente no Paquistão. Mesmo após quase perder a vida nas mãos do Talibã devido às suas crenças, ela reitera: “eles atingiram meu corpo, mas não podem atingir meus sonhos.”


Por Julia P.D.

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