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A Verdade Sobre Osho: O Que Podemos Aprender com o Líder Espiritual Mais Controverso do Século XX

Atualizado: 28 de dez. de 2019

Rajneesh Chandra Mohan Jain, mais conhecido como Osho, foi um dos líderes espirituais mais influentes e polêmicos do século XX. Nascido em 1931, na Índia, tornou-se um mestre na arte da meditação e do despertar da consciência. Mas também era, além de tudo, um notório campeão em debates, pois não poupava palavras ao proferir opiniões consideradas demasiadamente ousadas sobre religiões, normas sociais e instituições. Por defender uma visão aberta em relação ao amor e à sexualidade, ficou conhecido como o “guru do sexo”. Além disso, apesar de ter se graduado em filosofia e trabalhado nove anos como professor na Universidade de Jabalpur, ele não se considerava um acadêmico. Decidiu, então, largar a profissão para seguir o caminho do crescimento espiritual.

Osho conquistou uma legião de seguidores no mundo inteiro com seu discurso impávido e altamente provocador. Críticas a instituições como a igreja, o Estado e a família tradicional eram muitos presentes em seus debates e palestras. Para ele, cada um de nós deveria despir-se de todas as noções pré-concebidas que a sociedade nos ensinou a ter para, então, podermos criar nosso próprio sistema de valores. Para isso, devemos nos desapropriar de todos os preconceitos incutidos em nossas mentes e começar a encarar o mundo com novos olhos. Podemos até dizer que se trata de uma espécie de reprogramação da mente, por meio da qual aprendemos a ter novas perspectivas.


Escolhi escrever sobre ele, pois me senti muito intrigada após três dias de total imersão em pesquisas sobre a sua vida. Tanto o seu livro “Torne-se Quem Você é: Reflexões extraordinárias sobre Assim Falou Zaratustra, de Nietzsche”, como o documentário da Netflix Wild Wild Country, me forneceram bastante material para tecer um artigo completo sobre a sua história. Com uma trajetória regada a controvérsias, ele já foi até mesmo acusado de cometer crimes contra leis de imigração nos EUA. Mas entraremos mais a fundo nesse tema nos próximos parágrafos.


Rebeldia e transgressão à flor da pele


Osho era um líder espiritual que atraía especialmente a nata da sociedade, ou seja, intelectuais e pessoas influentes que estavam insatisfeitas com as tradições e normas às quais eram submetidas na vida comum. Essa ânsia por liberdade as levou a largar tudo para ir morar na Índia com seu designado mestre. Com uma legião cada vez maior de seguidores e uma crescente inimizade local em relação a seus ensinamentos, Osho decidiu procurar outro lugar para criar uma comunidade ainda maior, a fim de abrigar todos aqueles que desejassem se juntar a ele. Em 1980, seu sonho se concretizou: sua nova comunidade estava pronta. Construída pelas mãos de seus próprios discípulos, dessa vez ela se encontrava nos recônditos mais remotos de Oregon, nos EUA. Contava com residências de madeira, lojas, restaurantes, um grande hall de meditação e até mesmo um shopping center no meio do deserto americano. Pessoas do mundo inteiro viajaram para morar na nova congregação, que foi batizada de Rajneeshpuram.


Infelizmente, o pequeno vilarejo vizinho, chamado de Antelope, era composto por habitantes muito religiosos e tradicionais, o que dificultou a aceitação dos novos integrantes na comunidade. Os seguidores de Osho tornaram-se alvo de desconfianças, preconceitos e até mesmo de ameaças por parte dos habitantes locais. Afinal de contas, devemos imaginar o que acontece quando um grupo de jovens “hippies” e estrangeiros, que são adeptos do amor livre e contra tradições religiosas, “invade” um pequeno povoado conservador americano. Tudo o que é diferente incomoda aqueles que são intolerantes.


O ápice do conflito entre eles deu-se quando um hotel pertencente a Rajneeshpuram foi literalmente bombardeado pelos moradores de Antelope. As constantes ameaças à integridade física da congregação também contribuíram para um clima crescente de hostilidade entre as comunidades. Os moradores nativos de Oregon fizeram de tudo para tentar expulsar a comunidade de Osho do estado, pois se sentiam ameaçados pelas mudanças que acompanhavam a chegada dos forasteiros.


Cansados dos constantes ataques dos quais eram alvo, os principais líderes de Rajneeshpuram resolveram partir para a ofensiva. O braço direito de Osho, sua secretária Ma Anand Sheela, assumiu o controle da comunidade e começou até mesmo a cometer crimes em atos de desespero para que a congregação continuasse a existir. Ela foi responsável por infectar mais de 700 habitantes dos vilarejos vizinhos com salmonela, além de ter criado um sistema complexo de escutas na comunidade inteira. A maioria dos discípulos de Osho não tinha conhecimento sobre tais atos – eles estavam lá apenas para viver uma filosofia baseada no amor, na compaixão e na aceitação. Todos se vestiam em tons de vermelho e rosa e andavam com amuletos pendurados no pescoço, rindo e dançando entre as casas de seu novo lar.


No entanto, mesmo após já ter cometido atos bastante questionáveis, a verdade sobre Sheela só foi exposta após ela convocar membros da comunidade para participarem do homicídio do médico de Osho. Ela acreditava que ele iria assassinar o mestre e que, por isso, deveria se livrar dele antes que pudesse concretizar o ato. Pouco depois, todos os envolvidos no delito deixaram a congregação às pressas, sem informar Osho. Foi então que a bomba explodiu: o líder passou a se pronunciar publicamente contra Sheela, que havia assumido o comando de Rajneeshpuram quatro anos antes, período no qual ele havia decidido fazer um voto de silêncio. Supostamente, ele não tinha conhecimento sobre os crimes cometidos por ela e sentiu-se ultrajado ao saber dos fatos. Depois disso, eles nunca mais se falaram.


Infelizmente, o líder espiritual passou a ser um alvo cada vez maior do Estado americano, que queria se livrar dele e de seus discípulos a todo custo. Dito isto, começaram a fazer extensas investigações sobre a sua vida, ávidos por encontrar algum motivo para excomungá-lo. Se ele fosse embora, sua comunidade também iria. Foi então que ele foi acusado de transgredir leis de imigração americanas, ao supostamente forjar papéis e casamentos para manter ele e seus seguidores no país. Mesmo com provas insuficientes, as autoridades locais conseguiram expedir um mandado de prisão contra Osho. Ao perceber que nunca o deixariam em paz enquanto estivesse nos EUA, o líder espiritual decidiu fazer um acordo com o FBI para abrandar sua sentença. Ele se comprometeu a assumir responsabilidade pelos crimes de imigração e sair imediatamente do país, contanto que as autoridades estivessem dispostas a libertá-lo. Dito e feito: ele foi imediatamente solto e pegou um avião direto para a Índia.

A partir disso, podemos nos questionar em relação à veracidade das acusações feitas contra ele. Afinal de contas, estava claro que os americanos, em um ato de xenofobia e intolerância, estariam dispostos a tudo para vê-lo longe dali. Essas acusações não foram comprovadas até hoje. De qualquer maneira, recomendo que assistam aos seis capítulos de Wild Wild Country na Netflix para informações mais detalhadas sobre o caso.


O outro lado da moeda


Apesar de todas as controvérsias envolvendo sua trajetória e, especialmente, os escândalos causados por sua secretária, Osho continua sendo visto como um dos maiores líderes espirituais que já existiram por uma grande parte de seus seguidores. Isso fica evidente, em especial, nas entrevistas realizadas para o documentário Wild Wild Country – seus antigos discípulos ainda recordam-se dele com lágrimas nos olhos. Para os moradores de Oregon, ele não passava de um milionário charlatão e aproveitador. Para seus admiradores, incorporava o ser mais iluminado que já pisou na terra.


Não podemos ser ingênuos a ponto de acreditar que Osho era inocente em relação a tudo o que aconteceu de ruim em sua comunidade. Ele era apenas humano, como ele mesmo afirmava, e também tinha defeitos. Mas muitas das acusações feitas contra ele e seus seguidores, na verdade, provinham de mentiras e falsas suposições. No final das contas, fica a critério de cada um avaliar a essência de sua trajetória.


No entanto, para que a parte positiva de seu trabalho não caia no esquecimento, falemos um pouco sobre seus principais ensinamentos. Entre eles estavam o amor, a compaixão e a aceitação do próximo. Para ele, as religiões serviam apenas para prender o ser humano, que deveria ser livre acima de tudo. A tolerância, a livre expressão de sentimentos e a união entre as pessoas também faziam parte de sua filosofia. Como dito pelo próprio, “A conclusão é clara: nós estamos todos interconectados, toda a existência está interconectada. Até a folhinha de grama mais diminuta está conectada com a maior estrela do céu. Só que essas conexões não são visíveis”.


A transgressão e o questionamento também eram características consideradas importantíssimas para Osho: “Sem um espírito rebelde, a metamorfose não pode acontecer.” Em contraponto, a obediência tornara-se um veneno capaz de aniquilar qualquer possibilidade de rebeldia, o que poderia destruir a dignidade do homem. Como ele mesmo menciona em seu livro “Torne-se Quem Você é: Reflexões extraordinárias sobre Assim Falou Zaratustra, de Nietzsche”: “Zaratustra é a favor do homem forte, corajoso, daquele que se aventura sem medo algum pelo desconhecido, pelos caminhos que nunca foram trilhados. Zaratustra é a favor da bravura, do destemor.” Ou seja, a coragem e a sede de exploração são essenciais para o desenvolvimento tanto espiritual como intelectual do ser humano. Osho usa Zaratustra como um espelho para suas próprias opiniões.


Outras características, tais como a curiosidade e a vontade de aprender, são igualmente indispensáveis para o nosso aprimoramento. De acordo com Osho, “a não ser que você aprenda a duvidar, a sua inteligência nunca irá se desenvolver – porque dúvida é sinônimo de investigação, de busca, de curiosidade; e a crença é justamente o oposto de tudo isso.” Dito isto, não devemos ter medo de sair de nossa zona de conforto, afinal é esse movimento ousado que nos permite progredir.


Para finalizar, a vida, segundo a filosofia pessoal desse líder, existe para ser aproveitada ao máximo: “Aprenda a desfrutá-la! Dance com as árvores, baile com as estrelas. Ame sem ciúme, viva sem competição.” A celebração de cada momento, seja ao olhar uma bolha de sabão flutuar no céu ou ao dançar sob as estrelas, deve estar sempre presente no nosso dia a dia. A celebração do amor e a apreciação das belezas da vida representam os principais ideais do polêmico mestre espiritual.


O que podemos aprender com a história de Osho


Para concluir, podemos afirmar que a história de Osho mostra duas faces bastante distintas. Por um lado, ele era conhecido por ter uma extensa coleção de Rolls Royces e de usufruir de altas doses de luxo graças a generosas doações de seguidores ricos. Por outro lado, era visto como um líder espiritual altamente desenvolvido e detentor de conhecimentos nunca antes vistos pela humanidade.

Em resumo, ao observarmos todos os acontecimentos em sua trajetória, podemos aprender duas lições muito importantes. A primeira, é que não devemos seguir um líder cegamente, sem maiores questionamentos, como se ele fosse o detentor de toda a verdade. No final das contas, ele é apenas um ser humano, assim como nós. Ou seja, um mestre espiritual sempre será passível a equívocos. Ao seguir uma congregação, podemos acabar sendo coniventes com atos imorais e até mesmo criminosos, mesmo que indiretamente. Tentar uniformizar o ser humano não é saudável para ninguém. Cada um de

nós tem sua individualidade e deve ser capaz de expressá-la livremente.


A segunda lição é que as pessoas intolerantes farão de tudo para difamar o seu objeto de ódio. O preconceito e o medo do desconhecido são tão grandes, que esses indivíduos são capazes de cometer atos totalmente irracionais para tentar refutar suas acusações. Por isso, é essencial questionarmos todas as opiniões e comportamentos daqueles que cruzam o nosso caminho, sejam eles de desconhecidos ou de pessoas próxima a nós.


Após essa extensa reflexão, finalizemos o texto com uma valiosa citação de Osho: “O homem é o único ser da face da Terra que pode se tornar um processo, um movimento, uma constante evolução. É o único ser que, a cada dia, é capaz não só de ficar mais velho, mas também de ficar mais evoluído, de atingir novos patamares de consciência, novas esferas de percepção, novos níveis de experiência. É o único que conta, inclusive, com a possibilidade de transcender o seu próprio ser, de ir além de si mesmo.” Por isso, não nos esqueçamos do nosso papel no mundo – todos temos a capacidade de evoluir como seres humanos, contanto que busquemos o caminho do autoconhecimento e da compaixão.


Por Julia P.D.

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