Julia
A Real Natureza do Ser Humano: O Que Somos Capazes de Fazer para Sobreviver
Atualizado: 19 de jun. de 2021
Nos últimos tempos, dois fatores me levaram a refletir muito sobre o comportamento do ser humano em situações de sobrevivência. O primeiro é a pandemia, e o segundo são os seriados que assisti sobre o tema, em especial um anime incrível da Netflix chamado 7SEEDS. Diante das diversas situações fictícias apresentadas nas séries de televisão, a maioria parece ser bastante realista, o que me leva a questionar: qual é a real natureza do ser humano?
O Brasil já se encontra no quinto mês após o registro da primeira contaminação por coronavírus no país. Nesse meio tempo, foi possível identificar vários comportamentos questionáveis por parte de muitas pessoas, mesmo em não se tratar de um cenário apocalíptico. Indivíduos se recusando a usar máscara em locais públicos, saindo sem necessidade para locais aglomerados durante a quarentena, não tomando os devidos cuidados de higiene. Fora os que chegam ao nível de organizar festas ou agredir funcionários de estabelecimentos que exigem o uso de máscara, por se recusarem a usá-la.

Mas, em circunstâncias realmente apocalípticas, não é difícil imaginar como seria o comportamento de grande parte da população em termos gerais. Roubar comida e recursos de outras pessoas, largar sobreviventes ao relento ou “eliminar” integrantes de outros grupos estão entre as opções mais prováveis.
Com isso em mente, usemos os próximos parágrafos para refletir mais sobre a natureza humana em um possível panorama de fim de mundo.
Cenário pós-apocalíptico em 7SEEDS
O absolutamente intrigante e inteligentíssimo seriado de animação japonesa produzido por Yumi Tamura retrata um mundo destruído por um asteroide, que abriga somente poucos grupos de pessoas designados para garantir a sobrevivência da raça humana. Cada uma delas foi selecionada a dedo por um programa do governo japonês chamado 7SEEDS, que já previa a aniquilação de todos os seres vivos na terra. No caso, um total de cinco grupos de sete homens e mulheres acordam em um cenário totalmente inesperado com a função de sobreviver, custe o que custar.
O padrão dos indivíduos escolhidos é ser jovem, saudável e com inteligência o suficiente para se virar no novo mundo. No entanto, o governo japonês também criou secretamente um grupo de crianças geneticamente modificadas para serem treinadas somente em técnicas de sobrevivência. No final, apenas sete delas seriam selecionadas para salvar o futuro. A parte especialmente sombria é a maneira como os testes de seleção são realizados pelos professores, que chocam o público na mesma medida em que parecem perfeitamente aceitáveis para os que os conduzem.
Vale tudo para sobreviver?

O ponto mais interessante desse cenário é até que ponto o ser humano está disposto a ir para continuar vivo. No caso, sobrevivência muitas vezes é sinônimo de priorizar a própria vida e as próprias necessidades em detrimento das dos outros. Trata-se de uma mentalidade que pode ser bastante perigosa se pensarmos em termos de ética e direitos humanos.
Em uma situação pós-apocalíptica, o mundo se encontra sem regras sociais ou leis a serem cumpridas, pois não existem mais juízes, policiais ou prisões. Ou seja, as pessoas se veem livres para fazer o que bem entendem sem as devidas consequências, em completo estado de anarquia.
Apesar das ameaças apresentadas pela natureza, como animais selvagens e bactérias, o maior perigo são as pessoas. Isso porque elas podem (e provavelmente irão) roubar, estuprar, enganar e matar outros grupos para se apoderarem de seus recursos e eliminar a concorrência. Em situações como essas, o ser humano é reduzido ao seu estado mais deplorável, pois utiliza sua inteligência e capacidade de discernimento para se aproveitar de outras pessoas.
A complexidade humana
O cérebro humano é muito complexo e pode ser usado tanto para o bem, como para o mal. Em 7SEEDS, podemos observar diversos momentos profundos e extremamente humanos das personagens, como em ocasiões de intensa solidão, solidariedade com quem está em perigo e parceria sincera com indivíduos de outros grupos.
A série traz ótimas reflexões sobre as dificuldades, dúvidas e medos das pessoas que se encontram em um panorama inimaginável como aquele. No entanto, ela também mostra como a frieza e falta de escrúpulos são consideradas características úteis e até louváveis para garantir a própria sobrevivência.
Ficção x realidade

Com essas reflexões em mente, podemos fazer um paralelo entre situações de sobrevivência e nossa atual realidade em meio à pandemia. O que elas mais têm em comum é a incerteza do futuro e a luta pela vida, ambas originadas de um fenômeno sombrio e fora do nosso controle. Apesar das diferenças sociais influenciarem bastante quem sobrevive e quem não sobrevive, ainda assim todos estão sujeitos a uma possível contaminação e significativas perdas financeiras.
Ao ser privado de uma realidade civilizatória “normal”, sem acesso à comida, abrigo, energia, água encanada e sistema de saúde, o ser humano pode se transformar muito rapidamente. Se já presenciamos situações absolutamente questionáveis de pessoas que tem o melhor acesso a todas essas necessidades e muito mais, imagine então se estivessem em um cenário de real escassez e perigo.
No entanto, acredito ser possível encontrar um balanço entre empatia e solidariedade com os outros e a preservação da própria vida. O mundo não precisaria se tornar uma selva em uma situação de fim de mundo, pois o ser humano continua com o potencial de agir com ética e princípios, apesar de suas inúmeras limitações. Mas falo pensando no meu próprio comportamento. Infelizmente, não posso falar pelos outros. E você, como acha que se comportaria se estivesse largado em um mundo destruído para sobreviver?
Por Julia P.D.