Julia
A Ditadura da Beleza e como ela afeta as mulheres
Você já ouviu falar na “Ditadura da Beleza”? Esse conceito se refere a padrões de beleza praticamente inalcançáveis estabelecidos pela mídia. Mulheres jovens de corpo magro, pele impecável, nariz fino e seios arrebitados são consideradas o ápice da atratividade. Tudo vale em busca da perfeição. Seja por meio de procedimentos estéticos, cirurgias plásticas, cosméticos, pílulas emagrecedoras ou dietas mirabolantes. Ou todos eles juntos.
Embora existam cobranças para ambos os sexos hoje em dia, o público feminino é o principal alvo dessa imposição. Não importa se você estiver assistindo a um vídeo, lendo uma revista ou vendo um filme, as cobranças pela “estética perfeita” estão em todos os lugares. Na pose da modelo esquelética de pele retocada no Photoshop exibindo uma bolsa da moda, na atriz protagonista branca e magra de olhos claros, no artigo com dicas para conquistar uma barriga chapada e um bumbum sem celulite.

Segundo dados da ANAD (National Association of Anorexia Nervosa and Associated Disorders), os transtornos alimentares afetam pelo menos 9% da população mundial e uma pessoa morre a cada 52 minutos devido a um distúrbio alimentar. Conforme afirma Naomi Wolf, autora do livro “O Mito da Beleza”,
“O ceticismo da época moderna desaparece quando o assunto é beleza feminina. Ela ainda é descrita – na verdade mais do que nunca antes – como se não fosse determinada por seres mortais, moldada pela política, pela história e pelo mercado, mas, sim, como se houvesse uma autoridade divina lá em cima que emitisse um mandamento imortal sobre o que faz uma mulher ser agradável de ver”.
Assim como qualquer valor ou ideal, o padrão de beleza é definido pelas pessoas. Em especial, pela indústria da beleza: ninguém mais do que ela se beneficia em fazer as mulheres acreditarem que não são bonitas o suficiente. Nesse estado psicológico, essas mulheres precisarão de certos produtos ou procedimentos para torná-las mais “belas, jovens e desejáveis”.
Não apenas isso, mas desde pequenas, as meninas aprendem que serão avaliadas acima de tudo por sua beleza física, e não por seu caráter, inteligência ou personalidade. De que importa se ela for uma renomada escritora que luta pela igualdade de gêneros, se somente será classificada como uma “feminista gorda, feia e mal-amada”? Quando não se tem argumentos, é mais fácil atacar aspectos fúteis e irrelevantes.

A força da ditadura da beleza é tanta, que o físico e a sexualidade do gênero feminino são explorados além dos limites. Como a própria Naomi Wolf afirma,
“Uma mulher jovem pode na realidade se sair melhor, do ponto de vista econômico, investindo em sua sexualidade enquanto ela tem o valor máximo, do que trabalhando sério por uma vida inteira”.
É só pensar em quantos relatos vemos de mulheres de dentro e fora do mundo do entretenimento se exibindo na plataforma OnlyFans e ganhando uma fortuna. Na maioria das vezes, muito mais do que ganhariam se trabalhassem em qualquer outro emprego formal. E aí eu me pergunto: a que ponto chegamos?
E por que será que o envelhecimento, especificamente o feminino, é considerado algo tão abominável? Os seus sinais naturais, como as rugas, os cabelos brancos e mudanças no corpo são vistos como a decadência da mulher. Ao ponto que nos homens, ele é encarado como charme e experiência de vida. A verdade é que os homens não envelhecem melhor, mas seu envelhecimento é enxergado como uma conquista de status social. Afinal de contas, eles são avaliados primeiramente por seu caráter e personalidade, e somente depois por sua aparência física.
O objetivo desse texto não é vilanizar os homens (que, aliás, também são vítimas da Ditadura da Beleza), mas sim estimular a reflexão sobre os padrões de beleza impostos, em especial às mulheres, e como eles são irreais e nocivos. E que eles são, sim, definidos pela mídia e pelas indústrias da época em que vivemos. Felizmente, com o advento das redes sociais, passamos a ter acesso a diferentes vozes de pessoas de diversos gêneros, identidades sexuais, raças, etnias, classes sociais e tipos físicos. Só com essa diversidade de pensamentos podemos finalmente começar a desconstruir esses ideais que só existem para nos prejudicar. E você, o que faz para desconstruir os padrões de beleza?
Por Julia P.D.