Julia
9 Lições de Vida Que Aprendi Morando no Exterior
Atualizado: 28 de dez. de 2019
Ainda me lembro de como a mera ideia de morar no exterior costumava evocar emoções bastante contraditórias em mim. Quer dizer, é comum imaginarmos uma experiência incrível, emocionante e reveladora, pois representa uma chance única de viajar e de explorar novos países. Mas ela também não deixa de trazer consigo um aspecto assustador, não é? O que muitas pessoas não percebem, é que morar em um país é muito diferente de apenas visitá-lo como turista. De qualquer maneira, meus sentimentos irrequietos ficaram ainda mais intensos quando eu decidi, de fato, me mudar para o estrangeiro há quatro anos e meio atrás. Naquela época, estava me formando na faculdade - foi então que, subitamente, me senti invadida por um ímpeto de fazer uma mudança drástica de vida.

Quando preparei minhas malas e saí para me aventurar por terras desconhecidas, jamais imaginei o que estaria à minha espera. Primeiramente, o meu plano era fazer um curso de inglês acadêmico de quatro meses em Londres para, em seguida, entrar em um avião destinado a Zurique sem nenhum tipo de plano definido. Meus pensamentos sempre se deparavam com um grande ponto de interrogação relacionado ao meu futuro em um novo continente: Onde eu ficaria na Suíça? O que eu iria fazer? Como era viver naquele país? Pelo menos em Londres eu teria objetivos claros e um lugar fixo para ficar.
Bem, é pouco dizer que a experiência de morar fora se assemelha a um longo passeio de montanha-russa. Mesmo que você tenha consciência do risco que está prestes a assumir ao decidir se mudar para o exterior, nada pode te preparar para o que realmente está por vir. Passei por situações muito difíceis, mas também muito transformadoras e enriquecedoras. O mais importante de tudo é que eu cresci e me desenvolvi com uma rapidez incrível. No final das contas, morei um total de quatro meses em Londres e de quatro anos na Suíça. Essas são as lições de vida mais valiosas que aprendi morando sozinha em outro continente:
1. O primeiro passo é sempre o mais difícil

A ideia de ir morar no exterior e deixar a família e os amigos para trás pode ser bastante amedrontadora. Não se trata de uma decisão fácil de tomar, especialmente se você tiver planos de ficar fora a longo prazo. Você estará não apenas longe daqueles que ama, mas também será brutalmente arrancado da sua zona de conforto em todos os sentidos. Esse estilo de vida exige muita flexibilidade. Mas, a partir do momento em que você decide mergulhar de cabeça na experiência, você percebe a grande aventura que está à sua espera. Além disso, na maioria dos casos, você sabe que pode escolher voltar para casa se quiser.
2. Você descobre as coisas na prática
Se você nunca morou no exterior, tenho uma notícia importante para te dar: você será confrontado com muitas situações novas e difíceis de lidar. Graças à falta de informação e de experiência no país, você precisará encontrar soluções eficientes para lidar com os obstáculos que cruzarão o seu caminho. Isso se aplica tanto à elaboração correta de um currículo de trabalho, até saber como se candidatar a um apartamento de maneira adequada. Algumas das coisas que tive de aprender foi como e onde reciclar o lixo: há estações especiais para vidro branco, marrom e verde, outras para alumínio, assim como contêineres especiais para garrafas PET nos supermercados. Papelões e papéis devem ser cortados e separados em montes de 25 cm e amarrados exclusivamente com um barbante. Na verdade, há até mesmo um calendário especial para certos tipos de lixo – garis costumam vir em datas específicas para coletar cada um deles.
3. Você aprende a apreciar a própria companhia
Infelizmente, estar longe daqueles que ama é um dos preços que deve pagar se quiser morar no estrangeiro. Não vou mentir: é uma situação muito dura. Mas você acaba se acostumando a essa realidade, e aprende a ficar sozinho e a se sentir bem consigo mesmo. Após um dia longo de trabalho, você ansiará por ler um bom livro ou assistir uma série na Netflix no agradável silêncio da sua casa. Os seus maiores medos acabam sendo domados com mais facilidade do que você imagina. Além disso, ter a oportunidade de criar suas próprias regras dentro da sua casa e de administrar a sua vida do jeito que bem entender é uma experiência indescritível.
4. Você se torna independente muito rápido
Como mencionado anteriormente, você não pode contar com o apoio da sua família e dos amigos nessa situação. Isso ocorre não apenas por causa da distância física, mas também pela falta de conhecimento deles em relação à cultura do país em que você vive. Ou seja, no final das contas, você deve lidar com os seus problemas completamente sozinho. Essa experiência pode ser bastante difícil, especialmente no começo. Existem muitas regras e expectativas gerais com as quais você precisa se familiarizar. Porém, você aprende a desenvolver estratégias para enfrentar os problemas que aparecem no cotidiano. Depois de algum tempo, você consegue resolver praticamente qualquer dificuldade sem precisar da ajuda de ninguém.
5. Você percebe que nem tudo são arco-íris e borboletas

Morar no exterior tem muitas vantagens, como conhecer um país novo e pessoas novas, entrar em contato com outros idiomas, aprender mais sobre outras culturas e sobre si mesmo. Mas essa experiência também traz suas dificuldades: muitas vezes você é obrigado a se contentar com empregos piores por ser visto como um estrangeiro. Às vezes, você também sofre preconceito por ser de um certo país, por pensar de uma certa maneira, ou por ter determinados hábitos. Você também está mais apto a cometer erros, já que muitas regras do local são diferentes das do seu próprio país (escritas e “não escritas”). Mas não se preocupe, com o tempo você aprende a lidar com isso. Essa experiência o torna mais forte e você logo se habitua a passar por situações dessa natureza.
6. Você não sabe mais o que é “normal”
Cada um tem um conceito próprio do que é normal e do que não é. Isso varia não apenas de acordo com a nossa personalidade, mas também de acordo com o país e a cultura nos quais crescemos. Como brasileira, eu considero normal cumprimentar as pessoas com um beijo na bochecha (independentemente se eu as conheço ou não). Também costumo tomar mais de um banho por dia em algumas ocasiões, além de achar normal ter papos calorosos e descontraídos com pessoas que eu não necessariamente conheço. Entretanto, as coisas são um tanto diferentes na Suíça. Lá, as pessoas te cumprimentam com um aperto de mão cortês, porém distante. Elas não entendem porque você é tão “excessivamente” focado em higiene pessoal e também te encaram de testa franzida se você tenta puxar um papo na estação de trem. Esses são apenas alguns exemplos inofensivos de diferenças culturais. Você aprende que não há somente um conceito de “normalidade”. Nesse caso, você é o estranho no ninho.
7. Você enriquece o seu mundo com diversidade cultural
Uma das melhores partes de morar fora é a oportunidade de entrar em contato com várias culturas diferentes. Isso se aplica especialmente a países com muitos imigrantes e/ou turistas. É difícil pensar em uma experiência mais rica do que ser exposto a tantos modos interessantes e diversos de viver e de pensar. Além disso, se você mora no centro da Europa, é muito fácil pegar um trem ou um avião para conhecer outros países – as viagens acabam sendo muito mais freqüentes, pois além de serem mais baratas, exigem muito menos horas de deslocamento. Não existe nada melhor do que ter a oportunidade de conhecer lugares novos. Que privilégio poder desfrutar dessas experiências!

8. Você aprende a levar uma vida mais simples
Há quatro anos e meio, decidi me mudar do Brasil para a Europa com apenas duas malas e uma mochila nas costas. Primeiro eu morei com diferentes tios, depois com diferentes roommates, até finalmente ter o meu próprio apartamento. Conseqüentemente, aprendi a limitar minha quantidade de pertences pessoais – não apenas por questões logísticas, mas também em termos de praticidade. Hoje em dia, levo uma vida mais simples e organizada, bem menos focada em bens materiais do que antes. Meu objetivo é comprar apenas o que realmente preciso e evitar acumulações o máximo possível. Não preciso nem dizer que essa mudança de hábito trouxe muitos benefícios à minha vida. Além de ter me tornado uma pessoa mais consciente, me tornei uma pessoa menos materialista.
9. Você aprende a valorizar o que realmente importa
Essa é uma das lições mais profundas e importantes de viver tão longe de casa. Você começa a valorizar sua família e amigos muito mais do que antes. Quando estamos vivendo no cotidiano, em meio ao trabalho, às obrigações e às atividades domésticas, é fácil subestimar o que temos de mais importante em nossas vidas. A partir do momento em que deixamos de ter essas pessoas por perto, percebemos, mais do que nunca, como elas são valiosas para nós. Hoje em dia, sou capaz de sentir muito mais gratidão pelos momentos compartilhados com as pessoas que eu amo. Aqueles nos quais estamos apenas jantando, batendo papo, rindo ou assistindo a filmes juntos são os melhores. Eu não os mudaria por nada.
Bom, espero ter podido contribuir para o esclarecimento dos pontos principais que envolvem viver no exterior. Procurei falar sobre minhas experiências gerais ao invés de delimitá-las ao principal país em que vivi (no caso, a Suíça). Cada pessoa tem uma história diferente para contar. Essa foi uma pequenina parte da minha.
Por Julia P.D.