Julia
7 Lições Que Podemos Aprender Com o Feminismo
Atualizado: 27 de dez. de 2019
Por que não introduzir este artigo com uma notícia bombástica? Pois bem: o termo “feminismo” foi eleito a palavra do ano em 2017 pela célebre editora de dicionários americana Merriam-Webster. Mas vamos começar pelo básico. Afinal, o que é feminismo? De acordo com o dicionário, ele significa “ teoria que sustenta a igualdade política, social e econômica de ambos os sexos.” Ou seja, já podemos desmistificar a ideia de que feministas desejam conquistar a supremacia sobre o homem. Na verdade, tudo o que nós queremos é igualdade de direitos e oportunidades.

Como muitos de vocês devem ter acompanhado, certos acontecimentos contribuíram para o alto número de buscas dessa palavra no ano passado. Entre eles estão a exposição de inúmeros casos de estupro e assédio na internet, a criação do movimento #MeToo e a Marcha das Mulheres em Washington. Em Hollywood, diversas celebridades de alto calibre – como Gwyneth Paltrow, Angelina Jolie, Cara Delevingne e Mira Sorvino – causaram enorme furor ao denunciarem o famoso produtor Harvey Weinstein por assédio. A partir de então, notou-se uma onda de denúncias direcionadas a grandes nomes da indústria de entretenimento. Foi assim que uma caixa de pandora se abriu. Finalmente, as mulheres estão perdendo o medo de falar sobre suas experiências de desigualdade, assédio, estupro, objetificação e outras dificuldades características desse gênero historicamente oprimido.
Felizmente, já estamos caminhando em direção a uma sociedade mais igualitária. No entanto, ainda temos muito trabalho pela frente. É por isso que considero necessário falar abertamente sobre a contribuição que o movimento feminista traz não apenas para a vida das mulheres, mas para os membros da nossa sociedade como um todo. Confira as sete principais lições que podemos aprender com o feminismo:
1. Não se deixe limitar por estereótipos de gênero
Nós passamos a vida inteira escutando que existem coisas “só de mulher” e coisas “só de homem”. Nosso destino já é traçado desde o berço: devemos ter uma aparência considerada “feminina”, casar, ter filhos e cuidar do lar. Ah, além de sermos vistas como “naturalmente” emotivas, frágeis, dependentes e incapazes de pensar logicamente. Infelizmente, não faltam estereótipos quando se pensa em mulheres. Também não podemos esquecer dos estereótipos atribuídos aos homens, como os de que devem ser provedores, fortes, desapegados e despidos de emoções.

Claro, não podemos ignorar o fato de que cada indivíduo tem suas próprias limitações. Por isso, não devemos hesitar em pedir ajuda quando acharmos realmente necessário. Mas, na verdade, não há nada que uma mulher não possa fazer sozinha. O pneu do carro furou? Dá para aprender a usar o macaco. Não sabe fazer declaração de imposto? Informe-se a respeito. Quer virar jogadora profissional de futebol? Treine muito e confie em sua capacidade. Precisa descer três lances de escada com malas pesadas? Acostume-se a carregá-las você mesma (esse ponto foi especialmente útil na minha vida – desde pequena, eu e meu pai somos responsáveis por carregar as malas e compras pesadas da família). A independência nos torna, acima de tudo, mais confiantes para enfrentar as dificuldades da vida. Dessa maneira, dispomos de maior liberdade e autonomia para tomarmos nossas próprias decisões.
Para resumir: devemos viver de acordo com nossos próprios valores e ideais. Não existem regras quando se trata de personalidade e gosto pessoal, contanto que ninguém seja prejudicado no processo.
2. Ame-se e aceite-se como você é
A mídia costuma divulgar representações do que seria uma mulher fisica e psicologicamente ideal. Não é fácil para nós lidar com a pressão estética socialmente imposta, nem com as restrições e expectativas atribuídas ao nosso gênero. Infelizmente, mulheres ainda não “devem” andar na rua sozinhas, vestir roupas curtas ou se envolver casualmente com pessoas do sexo oposto. Se não seguirem essas regras, ainda são vistas como “vadias”, ao passo que os homens são reverenciados por terem as mesmas atitudes.
Além do mais, de acordo com um exemplo proferido pelo próprio presidente Michel Temer, uma boa mulher deve ser “bela, recatada e do lar”. Ou seja, se você for uma mulher espontânea, independente e focada na carreira, já é considerada fora do padrão. Mas ainda há esperança. Essa realidade está começando a mudar, mesmo que seja a passos pequenos. Tudo o que nós queremos é poder escolher livremente como queremos viver, sem pressões ou restrições desnecessárias.
3. Seu corpo, suas regras
Ninguém pode te obrigar a fazer algo com o seu corpo que você não queira. Isso inclui toques inadequados, relações sexuais, procedimentos estéticos e a continuação de uma gravidez. A vida é sua, o corpo é seu. A única pessoa capaz de tomar essas decisões é você.

Além disso, somos levadas a acreditar, ainda hoje, que a reação a um ato de assédio é “exagerada” e que somos as únicas responsáveis pela criação dos filhos. Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), já haviam 5,5 milhões de crianças brasileiras sem o nome do pai na certidão de nascimento no ano de 2011. Fala-se muito sobre a questão moral do aborto, mas muito pouco sobre abandono paterno. A sociedade não deve isentar o homem de assumir responsabilidade por seus atos.
4. Não tenha medo de se expressar
Apesar do atual progresso, ainda é relativamente comum que mulheres sejam criadas para agir nos bastidores ao invés de liderar. Quantas de nós já não agiram com incerteza na hora de negociar um salário, no momento de se impor em uma reunião liderada por homens, ou de dizer um não firme para aquele cara que tenta nos vencer pela insistência. Aprendamos uma coisa: não é não. Nossas vontades e sentimentos são, sim, importantes. Devemos nos respeitar acima de tudo, ainda que precisemos desagradar alguém no processo.
5. Pratique a sororidade
Infelizmente, a ideologia patriarcal está tão enraizada em nossa sociedade, que muitas mulheres ainda reproduzem opiniões e comportamentos machistas. Isso é muito triste de ver, pois elas são vítimas da mesma opressão estrutural que as mulheres feministas. Por isso, ao invés de criticar o cabelo, peso, estilo de vida, roupa e orientação sexual das manas, ajude-as a se tornarem pessoas mais seguras e independentes. Uma pessoa realmente forte ajuda a outra a se levantar.
Vamos desbancar o mito de que mulher é traiçoeira e falsa somente por ser mulher. Falta de caráter é uma questão individual, e não de gênero. Nunca nos esqueçamos de que a união faz a força. Respeito à maneira de ser de cada uma, contanto que ninguém seja prejudicado, é essencial para que continuemos nossa luta contra o machismo.
6. Seja livre em suas escolhas

Quer pintar o cabelo de azul, ter piercings pelo corpo, ir à uma convenção de cosplay e escutar sertanejo universitário? Seja livre para fazê-lo. E se casar, ter filhos e participar de uma relação monogâmica? Sim? Então faça isso. Não? Você também não é obrigada. Você pode ser heterossexual, bissexual, homossexual, transsexual ou assexual. Você pode ter um, dois, três ou nenhum namorado(a)(s). Você pode se envolver casualmente com quantas pessoas você quiser, ou não se envolver com nenhuma. Você pode não querer ter filhos e nem se casar. Ou talvez o seu sonho seja formar uma família tradicional. Cada um é dono de suas próprias escolhas. Cada um sabe o que é melhor para si. Tendo senso de responsabilidade, transparência total e o consentimento explícito de todas as partes envolvidas, tudo é válido.
7. Seja dona do seu próprio destino
Essa é uma das dicas mais valiosas deste artigo. A vida é uma montanha-russa: uma hora estamos por baixo; outra hora, por cima. Sempre haverá incertezas e mudanças no nosso caminho. Nós não podemos prever o futuro. Por isso, o ideal é que sejamos pessoas autossuficientes – não apenas financeiramente, mas também emocionalmente. O sentimento de confiança em si próprio é capaz de nos tornar mais fortes frente às dificuldades da vida. Podemos e devemos, sim, contar com ajuda de outras pessoas no nosso dia a dia. Mas não podemos nos esquecer de que somos primordialmente responsáveis pelo nosso próprio caminho.
A luta pela igualdade entre os sexos já existe há muito tempo e ainda tem um longo caminho a percorrer. Que honremos a memória das sufragistas do passado, que foram presas, torturadas, assediadas e mortas apenas para que as mulheres de hoje pudessem ter o direito ao voto. Graças a elas, conquistamos hoje o direito de trabalhar, estudar, de escolher com quem casar e quando ter ou não filhos, e de ser independentes ao invés de mera propriedade dos homens. Como bem disse a escritora australiana Dale Spender, autora do livro Man Made Language: "O feminismo não declarou guerras. Não matou oponentes. Não montou campos de concentração, não fez inimigos passarem fome, não praticou crueldades. Suas batalhas foram pela educação, pelo voto, por melhores condições de trabalho, pela segurança nas ruas, por creches, pela assistência social, por centros de apoio a vítimas de estupro, abrigos para mulheres, mudanças nas leis. Se alguém me diz 'Ah, eu não sou feminista' eu pergunto 'Por que?'"
Por Julia P.D.